Ferro e Mais Ferro - 4 de julho

Poder sem poder
Por Glauco Fonseca

Eu vi e ninguém me contou o massacre do dia 28 de junho. Foi a madrugada da serra elétrica na Assembleia Legislativa. Lá, sentados, deputados do PT e de outros partidos coligados na chacina, deram uma surra naquilo que, outrora, foi chamado de oposição. Depois do tsunami que passou por alguns gabinetes do Palácio Farroupilha, algo tem de ser reescrito na história do parlamento da terra dos legalistas, dos getulistas, dos farrapos.
Eu assisti, até às 5 da manhã, pela TV Assembleia, a votação do Pacotarso. Foi um circo dos horrores, com três atrações distintas. A primeira foi ver PSDB, PMDB, PPS, DEM degustarem generosamente de seu próprio veneno. Para eles e para ninguém mais, o gosto amargo deve ter sido para sempre inesquecível. O sabor acre das rodas da imensa patrola, esmagando seus argumentos agonizantes, o som de seus ossos estalando junto com suas vozes foi uma lição sem precedentes. Quem pilotou patrolas, agora terá de engolir uma série de patrolagens que certamente se repetirão no futuro. Esperemos que aprendam com a lição, que foi magistralmente concedida pelos “bulldozers” de Tarso Genro.
Outra atração destacada nas quase 20 horas de agonia foi poder ver deputados, outrora aguerridos, sentadinhos que nem comadres bordadeiras. Deputados petistas, pedetistas, comunistas e petebistas caladinhos, comportados, acabrunhados, inertes diante de um pacote absolutamente inconsistente sob todos os pontos de vista. Dava dó de se ver um Raul Pont na tribuna, um Carrion defendendo uma inconstitucionalidade. Todos dando aos espectadores a certeza de que não estavam sendo coerentes, sinceros, verdadeiros. O bloco governista era mais de Genoínos e não genuínos.
Por fim, as galerias. Quanta emoção nas galerias. De um lado, um grupo ínfimo de funcionários públicos com a mobilidade das rochas e o rugir de siameses. De outro, um bando de pelegos contratados, daqueles com direito a fundo de garantia e vale-transporte. Dirigentes sindicais calados ou ausentes, um CPERS envergonhado, cabisbaixo, era tudo que habitava as galerias. Patético.
As lições são várias. A maior é que o mundo é redondo, que nem sempre é justo e lá dentro do Farroupilha faltam mocinhos. A outra é que o legislativo gaúcho não deveria ser assim tão servil ao Palácio Piratini. Bem que poderiam ter mais autonomia, mais qualidade, mais representatividade. A lição final foi para o presidente da casa legislativa, Adão Villaverde. Para ele, jamais o protagonismo foi tão bisonho, jamais a servidão foi mais explícita, jamais um comandante foi tão comandado.
Lições servem para serem aprendidas. Aprendam!

Um comentário:

  1. Lúcido, contundente, verdadeiro e histórico. Uma verdadeira aula, o texto do Glauco Fonseca. Parabéns!
    Às vezes não dá para dizer com o ufanismo farroupilha: "Sirvam nossas façanhas, de modelo à toda a terra!"

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