Sexta, 20 de agosto de 2021

 

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especial

Nesta sexta, uma cesta 
de 
Sérgio da Costa Franco!


O Mestre



Eu tinha 7 anos e vinha de uma cidade muito pequena e sem movimento, Jaguarão. O bonde elétrico eu já conhecia de Pelotas, mas aqui foi um choque. Porto Alegre tinha uns 200 mil habitantes, mas para mim era uma metrópole.



Porto Alegre era tranquila. Morávamos no Menino Deus. Como gurizinho, aos 8 anos, a minha mãe me mandava tomar o bonde e ir ao Centro fazer compras. Os bairros não tinham comércio. Eu pegava o bonde, ia o Centro, fazias as compras e voltava sozinho. Ninguém faz isso hoje com uma criança de 8 anos. 






Sérgio da Costa Franco nasceu em Jaguarão, em 12 de junho de 1928. É jornalista, historiador e advogado. É uma das mais queridas personalidades de Porto Alegre, onde vive, e do Rio Grande do Sul.

Formatura no Anchieta: ele é o segundo, sentado,
da direita para a esquerda

Filho do juiz Álvaro da Costa Franco e de Gilda Werneck da Costa Franco, ainda na infância mudou-se para Porto Alegre, onde concluiu o curso secundário em 1945, no Colégio Anchieta. Formou-se em Geografia e História pela UFRGS em 1948 e em seguida em Direito, também pela Federal, em 1954.

Foi professor de ensino médio de 1947 a 1968, e chefe de comunicação regional do IBGE entre 1949 e 1952. Neste ano fez concurso para o Banco do Brasil, onde trabalhou como escriturário até 1957. A partir daí fez carreira no Ministério Público do Rio Grande do Sul. Foi Promotor de justiça nas cidades gaúchas de Encantado, Quaraí, Soledade, Erechim e Porto Alegre, promovido a Procurador de Justiça em 1976 e aposentado em setembro de 1977.

Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, foi presidente de 1996 a 1998. Também é membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

Jornalista provisionado, colaborador de vários jornais, especialmente o Correio do Povo, de Porto Alegre, a partir de 1949; de 1969 a 1983, teve coluna permanente no mesmo jornal, onde também foi editorialista, a contar de 1978; em 1984 foi contratado por Zero Hora, de Porto Alegre, mantendo coluna assinada, e foi editorialista até 1990. Colaborou novamente em Zero Hora a partir de 1999 até 2013.




- O que permanece hoje da Porto Alegre da sua juventude?

Acho que nada. Mas eu era frequentador do Mercado, todo o tempo que morei no Centro fazia compras lá. O Mercado precedeu os supermercados — sem morrer, sobreviveu a eles. A gente ia aos armazéns, fazia a encomenda e depois eles mandavam entregar o rancho em casa, de diversas bancas, cada uma com a sua especialidade. Nosso fornecedor era o Armazém Lopes Dias. Outra coisa que eu gostava naquele meu tempo eram as lojas térreas, que estão desaparecendo. (entrevista ao Jornal do Mercado)


Prêmios e Distinções:

Título honorífico de “Cidadão Soledadense”, concedido pela Câmara Municipal de Soledade-RS em 29/10/1975.

Prêmio “Carlos de Laet”, da Academia Brasileira de Letras, em 1976, pelo livro de crônicas “Quarta Página”.

Medalha cultural Dr. Carlos Barbosa Gonçalves, concedida pela Fundação Dr. Carlos Barbosa Gonçalves, de Jaguarão-RS, em 1979.

Medalha Osvaldo Vergara, da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção do Rio Grande do Sul, em 11/08/1982.

Medalha de “Mérito Cidade de Jaguarão”, concedida em 30/10/1982, pela Prefeitura Municipal de Jaguarão-RS.

Medalha “Cidade de Porto Alegre”, concedida pela Prefeitura Municipal de Porto Alegre, em março de 1983.

Prêmio Ilha de Laytano, concedido pela Fundação Ilha de Laytano, como o “melhor escritor de temas rio-grandenses do sul em 1987”.

Título honorífico de “Cidadão Emérito de Porto Alegre”, por ato da Câmara Municipal de Porto Alegre, em 28/06/1990.

Sócio benemérito da Associação Rio-Grandense de Imprensa em 19/12/1996.

Medalha cultural Eduardo Nadruz, por ato da Prefeitura, Câmara de Vereadores, Casa de Cultura e Instituto Histórico e Geográfico de Jaguarão, em 21/11/2001.

Medalha “Caldas Júnior”, concedida pelo Grande Oriente do Rio Grande do Sul, em 2/06/2003.

Medalha “Cidade Heróica”, outorgada pela Câmara Municipal de Jaguarão-RS, em 23/11/2005.

Prêmio Açorianos de Literatura – categoria especial, em 2005, pela Prefeitura Municipal de Porto Alegre.

Prêmio Compahc 2007 – Mérito ao patrimônio, concedido pelo Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural de Porto Alegre.

Prêmio Joaquim Felizardo, categoria “Memória cultural”, 2008, pela Secretaria Municipal de Cultura, da Prefeitura de Porto Alegre.

Medalha Leonardo Macedônia, conferida pela Ordem dos Advogados do Brasil, seção do Rio Grande do Sul, em 14-jul./2008, e entregue em Erechim-RS em 4-jun./2009.

Medalha MÉRITO FARROUPILHA, conferida pela Mesa da Assembleia Legislativa, em 20-set./2010.

TROFÉU GURI, conferido pela Rede Brasil Sul de Comunicação, em setembro de 2012.

Comenda Joaquim Caetano da Silva, concedida pelo Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, em 10 de agosto de 2017, em Porto Alegre.


- Como foi o seu início com a escrita?

Eu comecei a escrever no jornal muito cedo, com 20 anos, em 1949. Já tinha me formado em Geografia e História e trabalhava como professor de cursos particulares, ganhando salário mínimo. Um dia dei um peitaço: fui ao Correio do Povo, que na época era o grande jornal da cidade, com dois artigos na mão e consegui falar com o diretor, Breno Caldas. Expliquei quem eu era e que queria aumentar minha renda publicando artigos no jornal. Ele só disse “deixa aí” — não mostrava os dentes para ninguém, mas era um grande sujeito.
Surpresa minha: no dia seguinte, saiu o artigo, três colunas, e dois dias depois saiu o outro. Me enchi de vento: voltei lá e perguntei quanto ele ia me pagar. Daí em diante, comecei a colaborar com artigos sobre assuntos históricos. Breno Caldas uma vez me disse: “eu te descobri”. E eu respondi: “não é bem o caso de descobrir, eu fui me oferecer” (risos). Eu tiro o chapéu para este homem, que me abriu os caminhos. A partir dos artigos que eu publicava, me ofereceram um emprego no IBGE, porque em muitos eu falava sobre estatística. Estive três anos no IBGE, até fazer o concurso para o Banco do Brasil. (entrevista ao Jornal do Mercado)



Obras:


JÚLIO DE CASTILHOS E SUA ÉPOCA (ensaio biográfico), 1967, Ed. Globo, P.Alegre, 204 pp.; 2ª., 3ª. e 4ª. eds.UFRGS, P.Alegre, 1988, 1996 e 1997; 5ª. edição, Alegre, Edigal, 216 pp.​

SOLEDADE NA HISTÓRIA (monografia histórica), ed. da Prefeitura Municipal de Soledade e CORAG, P.Alegre, 1975, 136 pp.


QUARTA PÁGINA (crônicas), Ed. Movimento, P. Alegre, 1975, 82 pp,, duas edições, Prêmio Carlos de Laet, 1976, da A.B.L.

RUAS MORTAS (crônicas), Ed. Movimento, P.Alegre, 1977, 108 pp.


ORIGENS DE JAGUARÃO (ensaio), IEL/EST/Univ. de Caxias do Sul, 1980, 97 pp.; 2ª. edição, Evangraf, P.Alegre, 2007, 118 pp.


ACHADOS E PERDIDOS (crônicas), Martins Livreiro, P.Alegre, 1981, 122 pp.


PORTO ALEGRE E SEU COMÉRCIO, Ed. da Associação Comercial de Porto Alegre, 1983, 191 pp.

PORTO ALEGRE – GUIA HISTÓRICO, ed. da UFRGS/Prefeitura Mun. de Porto Alegre, 1988, 441 pp.; 2ª. ed., 1992, 447 pp.; 3ª. ed., 1998, 439 pp.; 4ª. ed., 2006, 445 pp.

EM PAZ COM A VIDA (crônicas), ed. ARI/Corag, P. Alegre, 1990, 129 pp.

A GUERRA CIVIL DE 1893 (ensaio), ed.UFRGS, P.Alegre, 1993, 92 pp.; 2ª. ed. ampliada, Edigal, P.Alegre, 2012.

GETÚLIO VARGAS E OUTROS ENSAIOS (ensaios), ed. UFRGS, P. Alegre, 1993, 87 pp.


A PACIFICAÇÃO DE 1923 (ensaio e documentário), ed.UFRGS/EST, P. Alegre, 1996,143 pp.


GENTE E ESPAÇOS DE PORTO ALEGRE (ensaios), ed. UFRGS, P.Alegre, 2000, 135 pp.


PORTO ALEGRE SITIADA (ensaio), Ed. Sulina, P. Alegre, 2000, 126 pp.; 2ª. ed., Letra & Vida, Edit. da Cidade, Secretaria Municipal de Cultura, 136 pp., P.Alegre, 2011.

GENTE E COISAS DA FRONTEIRA SUL (ensaios), ed. Sulina, P.Alegre, 2001, 184 pp.


SANTA CASA – 200 ANOS – CARIDADE E CIÊNCIA (ensaio ilustrado), em parceria com Ivo Egon Stigger, ed. da Santa Casa de Misericórdia, P. Alegre, 2003, 196 pp.

OS VIAJANTES OLHAM PORTO ALEGRE (organizado em parceria com Valter Antônio Noal Filho), 2 vols., ed. Anaterra, Santa Maria, 2004, Prêmio Açorianos da Prefeitura Municipal de Porto Alegre e Livro do Ano de 2005. 


A ASSEMBLEIA LEGISLATIVA PROVINCIAL DO RIO GRANDE DO SUL (crônica histórica), CORAG, P. Alegre, 2004, 88 pp.

MARAGATOS – O PARTIDO FEDERALISTA DO RIO GRANDE DO SUL (crônica histórica), Memorial do Rio Grande do Sul, Caderno de História nº 13, P. Alegre, 40 pp.

AS CALIFÓRNIAS DO CHICO PEDRO (ensaio), Edigal, P. Alegre, 2006, 85 pp.



MEMÓRIAS DE UM ESCRITOR DE PROVÍNCIA, Evangraf, P. Alegre, 2008, 228 pp. (ed. restrita).

A VELHA PORTO ALEGRE (ensaios e crônicas), Ed. Canadá, P. Alegre, 2008, 213 pp.; 2ª.edição, Edigal, P.Alegre, 215 pp.


OLHARES SOBRE JAGUARÃO (organizado em parceria com Eduardo Álvares de Souza Soares), Ed. Evangraf, Jaguarão, 2010, 262 pp.

DICIONÁRIO POLÍTICO DO RIO GRANDE DO SUL (1821-1937), organização de Mário Rozano, Porto Alegre, Suliani Letra & Vida, 2010, 224 pp.

PORTO ALEGRE ANO A ANO (1732-1950), Suliani Letra & Vida, org. de Mário Rozano, Porto Alegre, 2012, 292 pp.

CRIMINOSOS E SUSPEITOS PERANTE A JUNTA DE JUSTIÇA, Evangraf, Porto Alegre, 2012, 64 pp.


ENSAIOS DE HISTÓRIA POLÍTICA, Editora Pradense, Porto Alegre, 2013, 179 pp.

EM CENA OS PRESIDENTES: DE DEODORO A BOLSONARO, Edigal Editora, Porto Alegre, 2020, 294pp.

CRÔNICA HISTÓRICA DE JAGUARÃO NOS DOIS PRIMEIROS SÉCULOS, Porto Alegre, Evangraf, 2020, 144pp. 

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Este livro não está na relação oficial de obras do autor






– Em 47 o Paixão Côrtes e uma turma estão fundando o Movimento Tradicionalista. Esse fenômeno tem alguma relação com o seu interesse?

Não, porque eu era contra o tradicionalismo. Eu fui dos primeiros que escreveu contra o tradicionalismo, porque eu achava que era uma tentativa de reviver o latifúndio, de prolongar o latifúndio pastoril. Um pouco o que se diz até hoje (risos). Eram uns guris simpáticos, sem dúvida. O Barbosa Lessa, principalmente. E o que a gente dizia deles é que eles eram gente de cidade, não tinham mais nada a ver com o campo.  Tinha um sujeito muito divertido que eu conhecia, o Carlos Rafael Guimarães, que dizia deles: “Mas esse camarada é ali do Alto da Bronze, o quê que ele quer com essa história de gaúcho!”. (Risos). Era o Glaucus Saraiva. (entrevista ao site Parêntese)



– Depois de sair do Partidão, o senhor não teve mais filiação partidária?

Não, eu fui próximo do PTB, mas não fui inscrito, propriamente, porque eu era promotor e tinha meus pudores. Mas era muito próximo do antigo PTB e tive até uma prisão em 64, em Soledade. E uma prisão curtinha, em Santa Cruz. Não deu para tirar nem carta de mártir, nem para pedir indenização, como alguns fizeram depois. (Risos). Quando eu saí do Partidão e depois casei, minha mulher – que tinha graves restrições ao meu stalinismo – e eu fizemos um pacto para eu ficar afastado da atividade política. Eu até respeitei, mas depois comecei a escrever para a Última Hora e me reaproximei da política. Depois, quando eu me aposentei, em 1982, entrei no PDT, com vagas pretensões de ser vereador. (entrevista ao site Parêntese)




- E do Centro Histórico, quais são as histórias que o sr. destaca?

A Rua da Praia tem muita história, muita coisa aconteceu ali — combates de rua, mortandades. Veio o momento em que o Rio Grande do Sul teve um presidente, o Hermes da Fonseca (1910–1914), que foi generoso com o estado. No tempo dele, construíram o que é hoje o prédio do Margs, que foi delegacia fiscal do Tesouro, e também o atual Memorial do RS, que era dos Correios e Telégrafos. Aquilo mudou o espaço completamente. Foi sobre a área do rio, inclusive, e já se começava o aterro para construção do porto em 1912.
O porto começou modesto, com uns 120 m de cais, mais ou menos, com início onde é hoje o portão geral do cais. Para chegar lá, aterraram, e nasceu a Avenida Sepúlveda, que vai da Praça da Alfândega até o cais. Antes, tudo era rio: a Alfândega era construída na beira do rio, e ficava ali o primeiro trapiche da cidade, onde encostavam e chegavam os navios para regularizar a sua situação na alfândega. (entrevista ao Jornal do Mercado)




Veraneios em Torres

Escrito em 21 de dezembro de 2020

Só não digo melancólicos os meus veraneios em Torres graças a este panorama esplêndido de que desfruto das janelas do meu apartamento. Podendo ver o sol nascer pela manhã e mergulhar no horizonte ao anoitecer, com o rio Mampituba desfilando à minha frente e vendo ao longe o perfil dos Aparados da Serra, colho forças para enfrentar a mesmice do dia-a-dia. O espetáculo me proporciona seguir os barcos de pesca em sua rota para o mar, mais a rotina dos pescadores de caniço e de  tarrafa que tentam a sorte na beira do rio.

Nas outras duas praias em que veraneei e tive casas - Cidreira e Xangri-lá -, não havia nada disso. Era só a faixa de praia, os cômoros, as modestas casas de veraneio e a grandeza do Mar Oceano. Mas multiplicavam-se os conhecidos e as conhecidas, acenos, cumprimentos, intervalo de conversas nas caminhadas, e a invariável simpatia dos vizinhos, todos conhecidos de muitos anos.  Já nem falo nos banhos de mar, em  companhia da mulher e dos filhos jovens, com exercícios de nado, mergulhos e “jacarés”, que a idade ainda permitia. 

Mas comecei a veranear aqui em Torres em 2014,  com avançada idade, nesta quadra em que já se perderam quase todos os amigos e não há muita chance de fazer amizades novas. O resultado é que percorro todas as ruas da cidade e mais a orla marítima e não encontro sequer um conhecido para trocar impressões, ou algum eventual comentário sobre os saudáveis bumbuns que desfilam na praia. As temporadas praianas, de 2014 a 2017, têm sido uma espécie de “retiros espirituais”, daqueles a que nos submetiam os padres jesuítas do velho Anchieta, em que o silêncio era obrigatório. Faço 4 ou 5 quilômetros de caminhada sem falar com ninguém. Apenas recebendo algum atencioso “bom dia”, em função desse respeito que algumas pessoas tributam aos transeuntes muito velhos. É uma saudação formal, de mera generosidade com o macróbio que ainda se aventura a caminhar sem o apoio de uma bengala. De resto, as caminhadas não passam de operações de abastecimento da casa, com paradas em mercados, mercadinhos, farmácias e peixarias.

Em outros tempos, ao menos nos fins de semana, havia alegres reuniões de família. Agora elas se tornaram muito raras, porque os filhos foram dominados por um frenesi turístico que os leva a desertar, no verão, para insuspeitados lugares do mundo. Não me admira que, no ano que vem, resolvam visitar a Somália, Madagascar e a Tanzânia. Enquanto eu fico, melancolicamente, no meu retiro espiritual de Torres, contemplando em silêncio os crepúsculos e as pontes sobre o Mampituba.



- O que o sr. mais gosta em Porto Alegre?

O Guaíba. Deveria ser mais valorizado e mais aproveitado, não só para transporte coletivo — toda esta zona sul e Navegantes podiam ser servidos por conduções coletivas de barcos —, mas também no aspecto de esportes. Porto Alegre desenvolveu um pouco o remo e a vela, mas não à medida que o rio — que é lago (risos) — permite. O Guaíba é uma joia que nós temos aqui, um negócio fantástico.
Eu sou do tempo em que se tomava banho no Guaíba. Conheci a minha esposa na praia de Ipanema, tomando banho num sábado à tarde (risos). Era uma praia, tomava-se banho na Vila Assunção, no Ipanema, no Espírito Santo e nas praias do outro lado do Guaíba, Alegria, Vila Elza e Florida. Tinha até hoteizinhos: um dos programas era ir de barco no sábado e pernoitar lá. Em vez de o pessoal fazer uma enorme viagem para ir ao oceano, tinha umas praias aqui, muito boas. Depois foi ficando poluída e se abandonou. A balneabilidade do Guaíba podia ser recuperada. Isso eu continuo achando: o encanto maior da cidade é o Guaíba. (entrevista ao Jornal do Mercado)


Com esposa Ignez 


- O senhor diria que Porto Alegre não soube conservar seu patrimônio?

Do patrimônio histórico, arquitetônico, o que era luso-brasileiro não foi conservado. A Igreja do Rosário, do começo do século 19, foi demolida. A catedral era de 1780, construída pelo fundador da cidade, José Marcelino, e foi demolida para erguer-se a nova. Isso já no começo do século 20. Não havia a preocupação de conservar o patrimônio cultural. A Igreja do Rosário foi um crime. Ergueram no lugar um troço de gosto italiano, sem atrativo. A original não era um primor, mas tinha sido construída por uma sociedade de escravos ou de libertos. Os negros tinham feito a Igreja do Rosário. Só por isso ela merecia consideração. Foi demolida sem maiores protestos.
Porque predominou o pensamento do Partido Republicano, que valorizou a República Rio-Grandense. A bandeira dos farrapos virou a bandeira do Estado, o hino dos farrapos virou o hino do Estado etc. Não se falou mais de Porto Alegre, especialmente porque ela foi "leal e valorosa", leal ao Império.  (entrevista a Zero Hora)





Nos dias atuais, muitos problemas

(trecho de matéria elaborada por Márcio Pinheiro, para o Jornal do Comércio)

Sérgio da Costa Franco não se reconhece mais na cidade em que escolheu para viver. Viúvo e morando em um apartamento na avenida Getúlio Vargas, no Menino Deus, pouco sai de casa. Passa a maior parte do tempo lendo, agora mais por distração, já que não planeja nenhum novo livro. "Quero apenas me ocupar com algumas atividades para não correr o risco de ficar deprimido." Eventualmente, envia artigos para jornais mas também se ressente pela falta de espaço. "Antes, era possível escrever longos textos analíticos. Agora é tudo muito reduzido", lamenta.

Porto Alegre, para ele, cresceu de maneira exagerada e desorganizada, perdendo muitas de suas características. Com a expansão desordenada, a cidade acabou ficando estrangulada. Por limitações físicas e também por não compreender mais sua própria cidade, Franco não se arrisca hoje em sair de seus limites mais próximos. Tem medo de se perder num emaranhado de ruas e vias desconhecidas.

Se até os anos 1970 as casas ainda se destacavam na paisagem, com o passar do tempo, os altos edifícios, com dezenas de apartamentos, passaram a dominar as ruas. E uma das causas mais nítidas pode ser também a violência.

Esse é o aspecto contemporâneo que mais assusta Sérgio da Costa Franco. "Ao voltar a Porto Alegre, vivi a década de 1970 ainda sem grades e sem temores. Caminhava-se de noite, mesmo nas ruas escuras, sem correr risco, salvo se procurasse áreas conturbadas das periferias", compara o historiador. E acrescenta, ressaltando como a violência interferiu na arquitetura. "Quando comprei minha primeira casa, os jardins não tinham altas grades, e a minha, sequer um murinho que a separasse do passeio. Assim ficou durante vários anos."

Não é preciso ser muito idoso para ter conhecido uma Porto Alegre mais segura e menos medrosa, quando os jardins não tinham grades, nem portas e janelas eram gradeadas como celas de prisão. Posso dizer que fui testemunha desse processo de encarceramento da classe média e do pânico que tornou nossas ruas desertas à noite, apenas frequentadas as que têm bares abertos e movimento de automóveis. Vivi essa transição da liberdade e da segurança para o cativeiro e o medo.


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