ANDO DEVAGAR
PORQUE JÁ TIVE PRESSA
especial
Nesta sexta, uma cesta
de Dia dos Pais!
O jornalista Raul Ferreira escreve:
A vida mudou muito aqui na terra desde que você partiu em outubro de 2017.
Nos primeiros meses de 2020 surgiu em Whuran na China uma doença pandêmica, um vírus que atingiu o mundo inteiro. Uma espécie de gripe forte com pneumonia avassaladora que já matou neste 1 ano e cinco meses quase 600.000 brasileiros e deixou outros milhares de pessoas com sérias consequências e sequelas na saúde.
Em 2018 tivemos eleição, mas o candidato escolhido pela maioria dos brasileiros que se sentiam mais patriotas que os outros só diz bobagem sem o menor conteúdo e quer governar para os ricos deixando os pobres cada vez mais miseráveis, sem trabalho e dignidade. O comandante, ex-militar expulso do exército volta e meia ameaça com um golpe militar, se negou a orientar a população para os cuidados com o uso de máscaras e álcool gel e o que é pior: Se não fosse o Butantan lançar em janeiro deste ano uma vacina ele não se importaria em comprar o mínimo de outras vacinas para imunizar até aqui em torno de “apenas 20% da população” do País com as duas doses.
Pessoas sem informações se negam a admitir o perigo e não procuram se proteger e cuidar do próximo deixando de se imunizar. Para teres uma ideia não teve carnaval que tanto amavas em 2021 e uma nova variante chamada Delta que destroçou a Índia e avança sobre a Ásia, Europa e EUA, também ameaça a festa da cultura popular em fevereiro de 2022.
Em casa, eu fui voluntário da JANSSEN e acabei por sorte me vacinando em novembro de 2020. A mãe e o teu filho mais novo já receberam as duas doses da Oxford. Sinceramente pai, não sei como será o futuro. Gostaria tanto de poder viajar pelo mundo para conhecer novos lugares e voltar a outros que ficaram na minha memória, mas não sei quando e se isso será possível.
Outro dia vi a Catherine Deneuve ser aplaudida por mais de 15 minutos durante o Festival de Cannes deste ano e lembrei que me levasses ao cinema desde os 3 anos de idade. Sinto a tua falta e penso no teu exemplo de uma pessoa solidária que sempre ajudou ao próximo.
Lembra aquela vez que uma pessoa te pediu uma calça e estavas na porta de casa? Tirasses a calça que usavas no momento e entregasses pra ele e ficasses de camisa e cueca. Estavas muito certo. A gente não leva nada deste mundo. Mas deixa uma imensa saudade.
Lembro meu primeiro dia de aula em Porto Alegre, quando aparecesses de surpresa na frente da faculdade de jornalismo, a Fabico. Qual o filho que ganhou este presente? Sem falar naquela vez em que me prometesses levar ao estádio Olímpico para ver Grêmio x Brasil em 1968. Foi incrível te acordar às 5 horas da manhã, passar o dia na capital e voltar depois do jogo, dormindo na tua perna. As tuas curiosidades me incentivaram muito a conhecer Paris e aquele restaurante famoso, Le Tour D’Argent.
Mas nada se comparou a nossa viagem de 2001 quando pude realizar o teu sonho de conhecer o Rio de Janeiro e poder participar em duas gloriosas noites de desfiles na Marquês de Sapucaí, quando ensinavas o samba enredo de todas as escolas de samba para quem estava ao teu lado. Nunca te vi tão alegre em toda a tua vida. Lembro quando me falasses na orla de Copacabana... “ A gente merecia ter nascido aqui”.
Certamente tu merecesses o amor da tua companheira de 62 anos de vida, dos filhos que cuidasses dando liberdade e respondabilidade. O reconhecimento das netas a quem tanto dispenssastes teu tempo com carinho e cuidado muitas vezes excessivo.
Pai, o jornalismo foi como dissestes o que seria. Um caminho mágico na minha vida. Mas o respeito humano e a responsabilidade social da profissão eu aprendi foi contigo, sempre. As tuas pequenas lições de caráter me guiam eternamente.
A tua bondade me conduz para atos de ajuda para quem precisa. O mundo virou de cabeça pra baixo, tem até quem afirme que a terra não é redonda. Ah, mas vamos deixar isso de lado. Teus ídolos estão contigo. Ito Melodia, Jamelão, Beth Carvalho, Dominguinhos do Estácio, Laíla, João Trinta, Fernando Pamplona, e tantos outros que foram morar no céu.
As vezes, pai, a minha garganta fica apertada e tenho vontade de chorar pela falta que sinto da tua presença. Mas olho para os lados e me fixo nas pessoas nas ruas e fico pensando no grande privilégio que tive de ter por mais de 60 anos o melhor PAI DO MUNDO.
JAMAIS VI MEU PAI PELADO!!
Este é um texto que gosto muito. De 2013.
É sério.
No máximo de cueca samba canção. Branca.
Mas sempre o entendi, mesmo tendo convivido apenas 12 anos com ele.
Imagina.
O Waldemar passou a infância toda sem calçar um sapato. Na sua casa só falavam italiano - aquele dialeto de Caxias do Sul. Moravam num sítio longe da cidade - hoje, a região tornou-se um bairro classe média alta.
Até hoje não sei se é verdade, porque ele contava dando risada. Consta que foi atropelado pelo primeiro carro que circulou por Caxias.
Aprendeu a falar português e foi estudar. Com a Maestra Viero, uma das primeiras professoras de Caxias. Dava aulas embaixo das árvores.
Seu primeiro emprego foi dado pelo tio, Abramo Eberle, irmão da sua mãe. No almoxarifado da Metalúrgica Abramo Eberle.
Com menos de 20 anos foi mandado para o Rio de Janeiro.
Trabalhar na filial da Metalúrgica. E terminou o científico - segundo grau.
Um gringão no Rio de Janeiro!!
Alguns anos depois tornou-se sub-gerente da filial.
Na foto aí abaixo, olha o estilo galã. Acreditem, com 24 anos.
O tempo foi passando e alguns anos depois da foto acima ele conheceu uma uruguaia, que havia chegado de Jaguarão. Viagem de navio, com a mãe e o irmão. Como foram parar no Rio? A Adylles, a mãe, sonhava em morar no Rio. Só isso. E adorava viajar.
Etna era o nome da mocinha.
Casaram logo depois que a Segunda Guerra terminou.
Todo tipo de dificuldades. Até alugar uma casa era difícil.
Conseguiram alugar uma em Santa Tereza.
Pouco tempo depois nasceu o Paulo César.
Mudaram-se para a Urca. Lembro do apartamento da rua Otávio Correia, mas antes teve uma passagem por outro, também na Urca.
Já era gerente da filial do Rio da Metalúrgica. E o dinheiro que sobrava no final do mês comprava ações da Metalúrgica.
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Vivíamos bem na Urca. Praia perto e ele tinha um Austin, que nos levava para todo lado. Gostávamos mesmo da Praia Vermelha. Íamos muito também nos parques da cidade. Aí, abaixo, acredito que seja na Gávea: Paulo César, Waldemar e eu.
Uma família muito legal.
Comecei a aprender alguma coisa com ele quando fomos morar na rua das Laranjeiras, num edifício que acabara de ser construído. Um belíssimo apartamento, todo com móveis sob-medida e dois flamantes ar-condicionados.
Nessa época o Gringão já estava de bola cheíssima no Eberle. Tanto que o número de ações que detinha já era considerável. E tinha um Olsmobile 1952. Carrão. Hidramático, como lembra o meu primo Volmir Previdi. E mais: sem maçaneta para subir os vidros. Os quatro eram elétricos!
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Foi curto o tempo de aprendizado. Mais ou menos de 1960 a 1966, quando morreu.
As poucas coisas que tenho de bom, acreditem, aprendi com ele. Ou herdei, sei lá. Coisa de sangue.
A partir daí, minha mãe o substituiu e pude aprender também um bocado.
Impressões do meu pai: calmo, muito calmo. Não discutia, nem brincando. Quando o chamavam de tubarão (porque era bem de vida, mesmo) dava risada. Lotou a casa de livros e enciclopédias. Qualquer dúvida que surgia, lá ia ele para a Barsa. E meu irmão e eu tínhamos que ler. Ler e ler. Trabalhava pra burro. mesmo nos finais de semana. Dormíamos com o barulho do teclado da máquina de escrever - por sinal, tenho ainda a velha Remington.
Era Fluminense e eu Botafogo. Ia com ele ao campo do Flu, onde éramos sócios. Mas me levava ao Maracanã para assistir Garrincha e companhia.
Sempre se vestiu discretamente. Raramente usava bermuda. Quando colocava uma blusa de ban-lon sabia que íamos passear.
Apenas uma vez levei umas chineladas dele. Estava furioso comigo: minha mãe tinha se operado e num sábado não fui no hospital com ele. Com um amigo, fomos andar de bicicleta nas ruas. Bah, o porteiro do edifício contou pra ele e, acredito, nervoso com toda a situação, me deu umas chineladas na bunda. Sem muita força.
Seus funcionários gostavam muito dele. Me contaram que era um cara justo.
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Conhecia muito o espírito dos militares, porque atendia os Ministérios da área. A Eberle era a maior fornecedora dos milicos, tudo de metal.
Logo depois da chamada revolução de 64 estávamos nas cadeiras do campo do Fluminense. E veio sentar-se conosco um amigo dele. Eu ali, escutando o papo.
O cara estava faceiro com os milicos no poder.
Lá pelas tantas, disse mais ou menos isso:
- Daqui a pouco eles convocam eleições e tudo volta ao normal.
Meu pai olhou pra ele e respondeu:
- Conheço os militares. Não saem tão cedo do poder.
Dito e feito.
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Tentei, não sei o motivo, vê-lo pelado várias vezes. Até fingia que estava dormindo na cama de casal para ver se conseguia ver o tico do cara. Mas jamais consegui. O Waldemar era muito discreto.
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Curiosidade: seu nome era Waldemar Luiz Eberle Previdi.
Não sei quando, mas mudou para Waldemar Previdi.
Quem sabe para não associá-lo a empresa que trabalhava.
Essa é a última foto que tenho dele.
De 21 de dezembro de 1965.
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Morreu em 16 de julho de 1966.
Lembra que lá em cima falei que gostávamos muito da Praia Vermelha?
Pois é, foi lá que ele nos deixou.
Aos 47 anos.
Faz tanto tempo, né?
E eu tenho uma saudade imensa do cara!
Prévidi, belas postagens sobre o dia dos pais. Parabéns.
ResponderExcluirPermita-me uma reflexão sobre o Brasil atual:
Amigos,
Eu estou absolutamente confiante na determinação desse nosso presidente, que pode não ser o ser ‘mais fino’ do mundo, mas é sim, e está nos provando dia a dia, um democrata determinado.
Pessoal, não podemos aceitar de modo algum a volta do Lulladrão ao poder, pois, com o STF 90% de esquerda, ele terá poder imperial par aplicar ao limite todas as política esquerdistas e transformará nosso país num caos.
Alguém, um ingênuo, poderá dizer, ‘ah, o Brasil é muito grande e tem instituições consolidadas, não há esse perigo.’ Desculpem-me, conversa fiada! O que o STF está fazendo é uma antevisão do show de horrores que vivenciaremos se o PT lullista vingar em 2022.
Graças a Deus o nosso Jair não cede. Agora há pouco, numa solenidade da área da saúde, ele falou, tranquilo, e mandou um recado via 3ª estrofe da canção do exército:
“”” A paz queremos com fervor,
A guerra só nos causa dor
Porém, se a Pátria amada
For um dia ultrajada
Lutaremos sem temor...”””
O Braga neto estava presente, houve aplausos gerais!
Eu vivi 1964!
Hoje o perigo é maior, muito maior.
Troca nossa bandeira por outra, alienígena, na cor vermelha, com as estampas da foice e martelo, NUNCA!
Prévidi, neste último 31 de julho, marcou 134 anos da fundação do O Taquaryense. Meu texto/homenagem abaixo saiu na capa do velho hebdomadário neste sábado passado.
ResponderExcluirUma Vela Acesa
Caríssimos amigos leitores, neste próximo dia 31 o nosso secular hebdomadário O Taquaryense estará fazendo 134 anos, repito, 134 anos, um século e mais um terço de existência.
Em 1887, Taquari era um município com próximos 11 mil habitantes, e que recém tinha perdido seus dois primeiros nacos de terra, Estrela e Santo Amaro. No Brasil, a nossa gaúcha de Rio Pardo, Rita Lobato, teve a primazia de ser a primeira médica aqui formada. No mundo, em que 17 anos antes a Europa tinha vivenciado a terrível guerra Prússia-França, vencida pelos prussianos, o engenheiro Eiffel iniciava a construção da sua torre metálica que seria inaugurada dois anos depois, 1889, na icônica grande Feira Mundial.
Nesse contexto é fundado, por Albertino Saraiva (1887), o segundo jornal mais longevo do nosso estado ainda em circulação, sendo que a primazia vai para a Gazeta do Alegrete que circula desde 1882. O tradicional Correio do Povo, o róseo, é de 1895. E o mais interessante de tudo é que continua ainda sendo composto (editado) por métodos utilizados à época da sua fundação, ou seja, à mão com o uso de tipos móveis inventados por Gutemberg e, a partir de agora, com o uso de uma linotipo, máquina inventada na Alemanha em 1884 por Ottmar Mergenthaler, na qual o chumbo derretido vai formando linhas com textos gerados a partir de um operador que vai os datilografando.
Quando o jovem Albertino, nascido em São Jerônimo em 1865, vara o rio e vem para Taquari em busca do seu sonho, esse visionário tem pouco mais de 20 anos. As primeiras edições têm o capitão Tristão de Azevedo Vianna como editor, mas logo Albertino dá um jeito, compra gráfica e jornal, tornando-se proprietário único.
Com as normais dificuldades iniciais sendo superadas por Albertino (com a ajuda de sua amada esposa), o negócio foi crescendo e acabou sendo um dos jornais mais importantes não só local, mas da região. Consagrado como jornalista e grande nome da comunidade, Albertino acaba por falecer em 1928, com 63 anos, deixando sua sólida empresa em mãos de filhos, netos, bisnetos que perpassaram décadas e século trazendo-a, firme, sólida, até os dias atuais.
Para mim, doidivanas por história e pela palavra escrita, o Taquaryense não é só um simples jornal, é ‘um museu vivo da comunicação social’, uma ‘vela acesa a iluminar os caminhos vindouros’.
Vida eterna ao visionário Albertino Saraiva!
Prévidi, teu pai nasceu em 1919, mesmo ano do nascimento do nosso presidente João Goulart. Bela coincidência!
ResponderExcluirNunca escrevo mas hoje resolvi. Grande História. Meus parabéns.
ResponderExcluirPoxa, Previdi. Linda a história da tua família. Fiquei com os olhos marejados aqui.
ResponderExcluirÉ bom a gente aproveitar o convívio com nossos "velhos" enquanto estão aqui nesse plano com a gente.
Um forte abraço,
Pedro Leon.