Quinta, 2 de maio de 2013 - parte 2


LÍNGUAS DO MUNDO

João Paulo da Fontoura, escritor


Existem, aproximadamente, 2800 línguas no mundo; isto segundo cálculos de uma entidade respeitável, a Academia Francesa. Mesmo assim, esse dado é considerado conservador, pois certamente em algum canto de uma floresta como a nossa amazônica ou um íngreme cantão da Sibéria, haverá algumas línguas ainda não descobertas e catalogadas pelos doutos franceses. Este número – 2800 – é relativo às línguas, somente. Se considerarmos dialetos, o número sobe para quase 8000.
As línguas no mundo dividem-se em 12 famílias - as mais importantes - e 50 menos importantes. A família das línguas indo-europeias, da qual à  de Camões deriva, é uma das 12 mais importantes. Se juntarmos o Brasil mais Portugal e Angola, temos, aproximadamente, 220 milhões de falantes de português no mundo. Mesmo assim, com todo esse povo falando nossa língua, somos somente a sexta língua mais falada; antes de nós, temos: o chinês, inglês, hindustani – a forma falada do hindi e do urdu -, o espanhol e o árabe.
Um bom exemplo da conexão da nossa língua com o inglês (ambas com raízes indo-europeias) é a origem comum das palavras “verbo” e “word” (ambas, na origem, significando palavra). O português “Verbo” vem de “verbum (latim), que por sua vez vem da indo-europeia “WerdHom”, que possui a mesma raiz “wer” da germânica ou anglo-saxã “Wordam” ( palavra ), da qual deriva “Word”. Interessante, né!
Como gosto de provocar meus amigos, seguidamente os questiono em relação às palavras que existem na nossa língua mãe. O pessoal, timidamente, com medo de errar, chuta e erra feio: 3000, dizem uns; 5000 outros. O número exato nós não temos; porém sabemos ser muito próximo do italiano, do francês e do espanhol – países de línguas românicas como o nosso – e que ficam em torno de 500.000 palavras!
Dizem que um falante normal usa em torno de 3.000 palavras. Um sujeito um pouco mais culto (que consegue ler e entender uma revista tipo Veja, ou um jornal grande tipo Estadão) utiliza em torno de 25.000.
O grande político Rui Barbosa – a Águia de Haia – dominava em torno de 45.000. Há uma anedota creditada a ele que afirma ter cometido um longo discurso no plenário do Senado da República, e que foi duramente criticado pelo uso excessivo de “galicismo”. Não houve problema; repetiu todo o discurso, dia seguinte, em “português arcaico”, para desespero dos seus pares, que nada entenderam!
A exceção entre as línguas indo-europeias é o inglês, que possui o dobro, ou seja, um milhão de palavras! É que essa língua tem duas origens linguísticas: o dialeto antigo derivado do anglo-saxão e que era falado no poderoso reino de Wessex, mais o francês/normando (derivado do latim) e que foi imposto aos derrotados ingleses pelos vitoriosos normandos quando da conquista da Inglaterra, em 1066 da era cristã. Com isso, o moderno inglês passou a ter duas formas (uma saxônica básica e outra francesa mais formal, elegante) para referir-se a várias ações ou fenômenos. Por exemplo: retornar, pode ser o saxão “come back” ou o francês “return”. Traduzindo, a língua inglesa tem um milhão de palavras (tudo registrado, grafado), pois para tudo ela possui duas formas de se expressar. É vero, senhores!
Só como curiosidade, há uns 20 anos, no governo do Color, foi criado um grupo de trabalho para reunir e catalogar todas as palavras da língua portuguesa brasileira. O coordenador do extenso e árduo trabalho era o famoso (e saudoso) ANTÔNIO HOUAISS – linguista e filólogo -, que, com um grupo de 70 linguistas, conseguiu chegar até próximo a 250.000 palavras. Uma pena que, como tudo por aqui, não se foi até o fim, pois faltou grana! Em países mais avançados, há grupos de filólogos que se reúnem periodicamente com o objetivo de oficializar inclusões de palavras em seus dicionários, os quais, como regra, estão sempre atualizados.  Uma curiosidade com uma certa hilaridade: houve recentemente a inclusão de uma série de “novas palavras” à língua italiana, na qual o nosso Brasil contribui com uma; eles incluíram “viado” como sinônimo de homossexual. Com o elevado número de brasileiros fazendo o “trottoir” nas ruas das cidades italianas, a palavra “viado” passou a ter uso corrente entre os italianos e acabou por entrar no léxico da língua deles.

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