Um brinde de cuba-libre aos 60 anos
do Conjunto Melódico Norberto Baldauf
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A década de 50 foi berço de um fenômeno musical marcante no Rio Grande do Sul: os conjuntos melódicos. Com suas formações compactas, sonoridade suavemente encorpada e repertório que abraçava samba, tango, bolero, baião, fox, rumba e outros gêneros, eles substituíram com sucesso as orquestras na trilha sonora de bailes, boates e emissoras radiofônicas de um tempo em que dançar era não apenas prazer mas também uma necessidade social.
Entre as dezenas de grupos com esse perfil surgidos na Capital e Interior, o Conjunto Melódico Norberto Baldauf não foi o pioneiro (papel que coube ao grupo de Aderbal D’Ávila) mas acabou se mostrando o mais conhecido, querido e duradouro. Na ativa até hoje como um verdadeiro super-herói dos Anos Dourados, ainda que sem a mesma freqüência dos velhos tempos, o grupo completa 60 anos nesta sexta-feira, 17 de maio de 2013.
A estreia
O debut “oficial” aconteceu em reunião dançante promovida pelos acadêmicos da Faculdade de Arquitetura da UFRGS. A sonoridade suave e dançante do quinteto instrumental formado por Norberto Baldauf (piano), Raul Lima (guitarra), Victor Canella (acordeon), Leo Velloso (contrabaixo) e Porto Rico (bateria) caiu no gosto da rapaziada, definindo um estilo que serviria de inspiração para dezenas de outros grupos de baile pelos anos seguintes.
Tempos depois, a turma acrescentaria as figuras do crooner (Luís Octávio, depois Edgar Pozzer), do ritmista (Fausto Touguinha) e do vibrafonista (Hélio Santos, Heitor Barbosa). Destes, permanecem à frente do grupo, seis décadas depois, Norberto (85 anos) e Raul (89), fato que torna o hoje octeto sério candidato a figurar no Guiness Book como o mais antigo grupo musical brasileiro em atividade com membros originais.
Sempre pautado pela excelência técnica e profissionalismo, o conjunto também contribuiu para qualificar a imagem dos músicos no Estado. Num tempo em que esses profissionais ainda entravam pela porta dos fundos, Baldauf & Cia eram recebidos com “honras de chefe-de-Estado” pelos diretores dos clubes.
Bailes, discos, programas de rádio e TV
Considerado um dos maiores “cupidos” dos Anos Dourados, devido à quantidade astronômica de casais que se aproximaram, conheceram, trocaram o primeiro beijo, namoraram e casaram ao som de Norberto Baldauf, o Conjunto não restringiu sua atuação aos milhares de bailes no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Argentina e Uruguai (às vezes mais de um por noite e em cidades diferentes). A carreira incluiu seis discos de 78 rotações, dois compactos, dois discos de 10 polegadas e 12 LPs pelas gravadoras Odeon, Philips e Continental (todos ainda inéditos em CD), além de programas fixos na Rádio Farroupilha e Gaúcha e TV Piratini, sempre com sucesso de audiência.
O fã número um
Entre a legião de admiradores que ainda hoje suspira pelo Conjunto Baldauf, um deles conta com status oficial de “fã Nº1”. É o economiário aposentado Gilberto “Pinduca” Selmer, que desde 1956 comparece a todos os bailes do grupo na Capital e Interior, acompanhado da esposa. No armário de seu apartamento no bairro Rio Branco, os discos, convites, lembranças e uma arma exclusiva: os diferentes trajes utilizados pelo grupo musical e um agê (aquela espécie de chocalho). Semanas antes de um baile, ele telefona para os músicos para confirmar local, data e traje a ser utilizado. Pois no dia do evento, ele – que é sempre o primeiro a chegar, o primeiro a dançar e o último a sair – surge com a mesma indumentária. No meio da madrugada, o crooner chama Gilberto ao palco para tocar o agê e ajudar no coro durante algumas músicas. É a glória. Tem sido assim há décadas.
Trajetória contada em livro
A saga do Conjunto Melódico Norberto Baldauf foi detalhada pelo jornalista e pesquisador Marcello Campos no livro independente Week-End no Rio, lançado em 2006 e rapidamente esgotado. Atualmente, a publicação se encontra disponível apenas em sebos.
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