DEDICADO AOS SAUDOSISTAS
Sabe aquele cara que vive dizendo que tudo no passado era melhor?
Pois é, agora, no Rio, tem gente com "saudade" do antigo Maracanã.
Aqui em Porto Alegre, aposto, vai ter sujeito dizendo que gostava do velho Beira-Rio.
É, o cara gostava daqueles banheiros imundos, gostava de pagar uma grana preta para comer um horroroso cachorro quente com um refri quente e adora se sentar naquelas arquibancadas, especialmente no inverno.
Esse tipo de gente tinha que vender o seu moderno carro e comprar um chevetinho ou uma brasília, daquelas "inteirinhas".
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Leia este maravilhoso texto:
SUMIRAM COM O MEU MARACA.
AINDA BEM
MARIO MARONA
Jornalista e edita o http://leiturasmarona.blogspot.com.br/.
Domingo eu vi o jogo-teste de pré-inauguração do Maracanã e confesso que chorei. Chorei e fiquei, ao mesmo tempo, triste e melancólico. Que saudades do velho e bom Maraca! Aquilo sim é que era um estádio de verdade. Um estádio com suas dores e sofrimentos reais. Um estádio com a cara do Brasil.
Ah! Que saudade dos torcedores pobres da geral que, mesmo na ponta dos pés, só enxergavam pedaços de pernas e relances de bola rolando.
Ah onde ficarão agora os geraldinos que serviam de alvo de copos plásticos cheios de urina jogados das arquibancadas, quando não levavam na cabeça objetos mais pesados?
Ah como é triste perceber que nos roubaram o personagem da geral, aquelas pessoas pobres e majoritariamente pretas cujos esgares e reações serviam de pano de fundo para as gravações do Canal 100. Até os desdentados do Canal 100 nos tiraram – maldito Bolsa Família!
Como me entristece não ver mais os geraldinos que se fantasiavam para uso e abuso da TV Globo como imagem de corte nas transmissões dos jogos e cenário para passagens de VTs dos programas de esporte.
E quando chovia, que bonito ver aquela gente molhada da cabeça aos pés saltitando para não sentir frio.
Com o gramado tão próximo, senti falta daquele tempo bonito em que a gente não conseguia identificar os jogadores que estavam no outro lado do campo e só com radinho de pilha era possível “ver” direito o que estava acontecendo.
Era tão lindo ver a arquibancada lotada e a gente sentada no concreto frio e áspero, as bolas molhadas, tentando não se levantar para não ficar sem espaço para a bunda depois do lance de gol.
Era uma coisa, sei lá, incrível, quando caía um temporal e praticamente todos os torcedores se molhavam, exceto os que estavam nas arquibancadas superiores – diferentemente desta situação ridícula de hoje, quando 95% dos lugares são cobertos, que horror!
Como era bom quando a gente descobria que tinha comprado o ingresso mais caro, mas em jogos importantes não encontrava lugar porque um terço do espaço estava ocupado por bicões, PMs sem farda e funcionários públicos em geral, que não pagavam para entrar e ainda sentavam onde bem entendiam.
Era um charme ver o Maracanã com 180 mil pessoas espremidas e correndo risco, mesmo sabendo que não havia condições de conforto sequer para a metade disso.
Era tão bacana quando a gente tentava usar o banheiro e, depois de esperar 20 minutos na fila e perceber que o segundo tempo já havia começado, se via obrigado a mijar em qualquer corredor ou, quem sabe, num copo plástico que, depois, oba!, podíamos atirar na cabeça dos geraldinos.
Mas infelizmente eu não posso lembrar de tudo isso com tantos detalhes porque, na verdade, como era jornalista e tinha, claro, uma carteirinha da Acerj, podia deixar meu carro dentro das dependências do estádio, subir à arquibancada de elevador e, mesmo que não estivesse trabalhando naquele dia ou que sequer fosse deste setor no jornal, levar minha família toda para assistir aos jogos na melhor posição existente no estádio, a gloriosa Tribuna de Imprensa, onde encontrava a rapaziada, bebia à vontade, torcia sem qualquer restrição, tinha acesso a banheiros limpos e podia, lá de cima, admirar em 360 graus todas as cenas típicas de um Maracanã lotado: pobres que não viam o jogo, desdentados ensopados, gente com a bunda no concreto, brigas e correrias, copos de mijo atirados para lá e para cá, de vez em quando uma grade da arquibancada que desabava para e feria vários torcedores...
Uau!
E era muito legal quando a gente assistia aos jogos europeus em estádios como Parc de Princes, Santiago Bernabeu, Wembley e podia encher a boca para dizer: que merda, nunca teremos um estádio assim no Brasil!
É por isso que eu choro.
Mentira, não choro nada.
Torço para que, finalmente, com o novo Maracanã e os outros locais de jogos da Copa, o conforto e a segurança não sejam apenas privilégio de jornalistas de carteirinha em suas tribunas de imprensa.
O resto é má literatura.
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