BOCA LIVRE CULTURAL
Toda semana recebo ao menos dois pedidos para responder questionários, geralmente de estudantes de comunicação. Impressionante. Poderia escrever um livro para cada pergunta. Tipo "como vê o futuro das mídias alternativas?". Quase sempre respondo, mas com economia de palavras.
Outros me pedem para fazer avaliação de textos e mesmo de conteúdo de blogs.
Pô, eu não tenho essa bolinha pra dar esse tipo de opinião!!
Fora os mais variados pedidos para que escreva textos Aí eu tenho uma resposta: "como acertamos o pagamento?". É muito difícil me responderem. Querem que eu escreva "de grátis" mesmo.
Mais ou menos como a participação em programas de rádio e TV. Claro, só faltam te cobrar!!
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Ontem li, como sempre, mais um sensacional texto do jornalista e escritor Nelson Motta.
O título é o lá de cima:
“O Conselheiro come“ é o título de uma crônica antológica de João Ubaldo Ribeiro sobre um escritor que não consegue trabalhar para atender os pedidos de entrevistas, depoimentos, prefácios, teses de mestrado e avaliações de textos, que lhe consomem muito tempo e esforço sem lhe render um tostão ou qualquer benefício. O título é uma citação da esposa do Conselheiro Ruy Barbosa, tentando explicar aos solicitantes que o marido precisava ganhar algum dinheiro com seu trabalho para pagar suas contas.
Assim como o Conselheiro e João Ubaldo, no Brasil, muitos profissionais bem sucedidos de diversas categorias são assediados por amigos, conhecidos ou estranhos para trabalhar para eles, de graça por supuesto.
Alguns são pressionados a ouvir discos e a ler livros, crônicas, peças de teatro, teses de mestrado, e pior que tudo, poemas, que não gostariam de ler nem muito bem pagos. Os verdadeiros amigos entendem eventuais recusas, os profissionais compreendem os motivos, mas muitos não tem noção, esperam que você pare tudo que está fazendo para ajudá-los no trabalho de conclusão de curso.
De tanto atender pedidos para depoimentos em vários documentários, de Paulo Francis à Bossa Nova, de Wilson Simonal aos Mutantes, de Raul Seixas a Cartola, dos Dzi Croquettes a Tim Maia, acabei merecendo uma gozação do critico de cinema André Miranda como “o ator de documentários em maior atividade no momento.”
Achei muito engraçado e oportuno, porque passou a me servir de álibi infalível para recusar novos depoimentos sobre os mais diversos temas: “Não dá, já fiz tantos que estou ficando ridículo como “ator de documentários”, vou queimar o teu filme, tenta o João Ubaldo.” Valeu, André.
O pior é o tempo perdido, que poderia ser gasto descansando, trabalhando ou se divertindo com sua família e seus amigos, dado de graça para um estranho.
E os jornalistas que pedem para escrever um depoimento sobre João Gilberto? Ou uma lista dos 100 maiores discos da MPB, comentados. Querem que você faça o trabalho deles.
E nem imaginam o tempo e o esforço que me custam para escrever uma pequena crônica como esta.
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