UMA HORA DE DEMOCRACIA
André Martins, publicitário
Em uma hora a manifestação dá lugar ao conflito. É um prazo de validade fatal para um ato democrático. Foi assim hoje na Borges de Medeiros, em disparada pela Cidade Baixa e no entorno da Prefeitura. Lá estavam aqueles seres escondidos em suas camisetas, carregando paus e dezenas de artefatos nas mochilas, caminhando no meio do movimento, prontos para agir de forma covarde, embora se considerem heroicos e corajosos. Eles são peçonhentos, miseráveis, uma ralé em todos os aspectos. Os manifestantes tentaram impedir, mas é inútil. A vontade de bater encontra a fome de apanhar e surge o caos. Nas telas de TV e nas páginas de jornais esse é o saldo de sempre. A imprensa é rápida e preguiçosa.
Só existe uma maneira de você entender como isso acontece e qual é o seu significado. Indo lá. Eu aconselho. Veja os manifestantes conversando com as pessoas que saem nas janelas, que piscam as luzes de seus apartamentos, exibem cartazes e disparam gritos emocionados de aprovação. Nunca antes nesse país havia acontecido algo assim, feito por pessoas que estão mais preocupadas em exigir mudanças do que em fazer valer uma proposta política ou uma ideologia. Há, evidentemente, política e ideologia no meio, direita e esquerda estão lá, como sempre. De vez em quanto, até trocam desaforos e sopapos, mas estão juntos, unidos pelo nojo de uma corrupção sistêmica. Você verá, lado a lado, gente que não pensa da mesma forma em muitas coisas, mas no que se refere à vergonha que nos tornamos concorda em gênero, número e desagravo. Esse pessoal que sai aos milhares pelas ruas e que comove milhões, enfrentou o poder de forma inédita e o colocou contra a parede. Isso não é pouco. Isso é fazer história.
Por isso, eis o convite. Se você está em uma dessas janelas que aplaude a imensa massa que se arrasta pelas ruas lá embaixo, desça. Se você está em casa assistindo pela televisão, da próxima vez acompanhe a manifestação desde o início. Se você tem medo da ação dos vândalos, não se preocupe. Fique perto dos manifestantes pacíficos e nada lhe acontecerá. Engrosse esse cordão, essa coluna que marcha sem saber direito pra onde, porque está espremida por vândalos de todos os lados, uns mascarados, outros fardados.
Muito bom o texto, muito correto! Só mudaria o final : trocaria a palavra "fardados" por "eleitos". Esses sim, eleitos pela população, mas esquecendo seus reais compromissos com a cidadania e com o país.
ResponderExcluirOs fardados, até entendo sua posição, pois não estão na rua por querer, é o trabalho deles. Muitos despreparados, cansados, mal pagos, morando mal, e ainda tendo q lidar com as piores situações. Hoje, ao ver fotos na internet de bombas de gás e de efeito moral juntadas após os confrontos, e com a validade vencida, me senti triste por essas pessoas. Imaginem combater traficante com armas obsoletas, com munição vencida... Acho q depois disso, eles deveriam se juntar aos manifestantes...
Grande abraço.
Liége Oliveira