Jornalismo “de resultados”
Glauco Fonseca
Cena um: sujeito gradua-se em engenharia civil e decide construir uma ponte. Só que, ao invés de fazê-la de acordo com as normas e parâmetros que deveria seguir, decide construí-la de acordo com suas “convicções”. A ponte até pode resistir, mas a lógica é o desastre anunciado. Cena dois: Médico se forma e se especializa em oncologia. Seus clientes, com raras exceções, irão sucumbir ao câncer, mas ele decide “eliminar o sofrimento” de seus clientes terminais e encerra suas vidas quando lhe dá na venta.
Cena três: Juiz determina uma pena que não consta em nenhum código do país, baseando sua sentença apenas em fatores subjetivos e de acordo com a moral e os costumes.
De imediato, quatro fatores comuns permeiam os exemplos acima: ilegalidade, ética ausente ou distorcida, presunção de impunidade e, por fim, onipotência. Quanto mais exigidos os diplomas e as graduações, maiores as chances do sujeito se investir de forças que não possui, de direitos que não goza, de benefícios que não lhe cabem e de honras que não lhe são devidas.
Agora voltemos a falar de jornalismo, profissão tão importante e que, por incrível que pareça, até hoje se autoquestiona quanto à necessidade de diploma universitário. Não é a primeira vez que menciono que existe o jornalismo correto e o jornalismo que poderia compor uma “cena quatro” deste texto. O jornalismo feito pela Revista Veja no Hotel Naoum neste final de semana possui tudo que não deveria possuir uma reportagem de teor tão importante: Nome falso, mentira, falsidade ideológica, covardia e etc. A matéria, sobre as ligações de José Dirceu com tudo e com todos, poderia ter sido mais bem conduzida, melhor escrita e seus protagonistas até poderiam ser premiados, não tivessem adotado métodos criminosos, ilícitos e antiéticos. É o mesmo que dizer “eu roubo porque todo mundo rouba”.
Este tipo de jornalismo por aqui no RS é muito conhecido. E incensado, o que é mais preocupante. Eu não lembro, no filme ou no livro de Bob Woodward e Carl Bernstein, de eles terem adotado práticas ilegais para denunciar o presidente Nixon. Eu li, isto sim, como fez Hitler para criar e fortalecer seu Reich, como fez Goebbels para cooptar milhões de “corações e mentes”, tudo em cima de factoides, mentiras e ilegalidades. E aquilo foi chamado de “marketing” ou de “propaganda”. Nós sabemos que marketing e propaganda que usam a mentira se dão muito mal. O mesmo se dá quando o jornalismo investigativo é apenas um “suposto” jornalismo investigativo.
Há algumas pessoas que dizem: “Não me interessa o método do fulano, o importante é botar bandido e ladrão na cadeia”. Esquecem-se que os tais bandidos e ladrões NÃO VÃO para a cadeia por conta da própria ilegalidade presente no bojo, na gênese da formação da prova. Eu desafio qualquer um a provar que eu estou equivocado. Outros alegam que “... esses caras têm mesmo é que serem desmascarados pela mídia”. Novamente erram. Eles têm de ser investigados pelas forças policiais, processados pelo império da lei e encarcerados pela força do Estado.
Não nos esqueçamos, contudo, de que estamos no Brasil de Lula, de Sarney e de Calheiros, de Palocci e de José Dirceu e seus quarentões. Mas se é no Brasil onde os italianos Cacciola e Battisti andam pelas ruas como se fossem gente de bem, é neste mesmo país que precisamos cada vez mais de médicos de primeira, de engenheiros e advogados corretos e de jornalistas que não se deixem sucumbir pela por uma metodologia vagabunda que tanto precisa ser coibida em nosso plantel político nacional.
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