Antes Tarso do que nunca
Nelson Motta
"Os partidos de esquerda que mantiverem a velha tradição de luta interna pelo controle dos aparelhos de poder, sem um projeto ousado e inovador, ficarão como os socialistas gregos, espanhóis e portugueses: sem fazer as suas reformas, serão reformados pelo mercado..."
É incrível, mas foi o Tarso Genro que disse isso! E o que fizeram os progressistas gregos, espanhóis e portugueses? Inflaram os gastos públicos com pessoal, empregaram seus companheiros no governo e nas estatais, ampliaram os direitos sociais mas não os deveres fiscais dos cidadãos, se endividaram temerariamente, aumentaram as cargas trabalhistas e diminuíram a competitividade de seus produtos, epa!, parece até que estamos falando do jeitão lulopetista de governar. Seria uma autocrítica tardia? Antes Tarso do que nunca.
E o que não fizeram os companheiros europeus? As reformas tributárias, previdenciárias, políticas e econômicas que deviam fazer. E foram atropelados pelos fatos, pelos números e pelas leis implacáveis do mercado, aquelas que não mudam por decreto nem por "vontade política".
Nem bem refeito do choque com a surpreendente advertência de Tarso, levo um susto com o que leio nos jornais:
"É natural que os partidos indiquem os ministros e o seu entorno, mas o resto deve ser da burocracia, com servidores concursados."
Quem disse isso foi José Dirceu, aparelhador-mor do Estado, articulador das alianças com partidos podres e políticos fisiológicos que rapinam os cofres públicos, que agora defende a meritocracia e não mais a "ocupação estratégica dos espaços políticos" para a realização do grande plano de poder petista. Duro vai ser tirar a companheirada do bem-bom e dar esses 25 mil cargos aos funcionários mais competentes.
Para nossa ainda maior surpresa, o PT desistiu publicamente da sua bandeira histórica do "controle social da mídia". E para encerrar a sucessão de assombros, as palavras abalizadas de Sarney, o nepotista-mor: "Parentes no governo só criam problemas".
Não sei não, mas se eles continuarem com essas ideias amalucadas, corremos o risco de acabar caindo numa democracia.
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