Bom Dia! Quarta, 23 novembro 2011

UM MISTÉRIO CHAMADO EVA SOPHER - 3

Texto de Cristóvão Feil,
no http://www.diariogauche.blogspot.com/, em 11 de junho de 2006:


Theatro São Pedro e sua dona
 O teatro São Pedro é uma entidade cultural do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, vinculado à Secretaria de Cultura estadual. Opera como uma fundação pública. É, portanto, por definição legal, um bem cultural público de todos os sul-rio-grandenses. Apesar do pleonasmo, é preciso sempre frisar o caráter público desse belíssimo e tradicional espaço cênico.
Agora, em 2006, está completando 148 anos de existência.
Há exatos 22 anos foi completamente recuperado e restaurado. Desde então é dirigido pela senhora Eva Sopher, que teve um papel importante na reafirmação do São Pedro como patrimônio cultural do Estado. Contudo, essa senhora de forte e carregado sotaque alemão, e que maneja-o com ânimo de sargento prussiano, considera-se inamovível e insubstituível no cargo e função pública que ocupa há 22 anos.
No início do governo Olívio Dutra, menos por vontade do governador, e mais por força da democratização do espaço e por pressão legítima de parcela consciente da comunidade cultural do Estado, o São Pedro quase foi retomado da sua “dona” presumida. A senhora Sopher usou então meios legítimos e meios discutíveis para permanecer no cargo.
Setores identificados com o ex-governador Britto tentaram, na época,  ideologizar a pressão pela “fiquismo” do seu dileto quadro. Acabaram vencendo, mesmo por que o novo governo não quis fazer cavalo de batalha numa questão menor, relativamente ao conjunto caótico de problemas herdados do brittismo privatizante.
Hoje, o teatro São Pedro está em pleno processo de expansão física, com o projeto do chamado Multipalco – um esforço estatal (federal/estadual) e privado para a construção de estacionamento no subsolo, anexos com mais áreas para ensaios, e outras salas multifuncionais. Um centro cultural quase completo, no coração de Porto Alegre.
Tirando o estacionamento para automóveis, algo muito discutível, trata-se de um empreendimento bastante razoável – como estrutura material palpável. O orçamento do Multipalco foi estimado originalmente em 30 milhões de reais. Várias lajes estruturais estão concluídas, mas no presente momento as obras estão paralisadas. Como não há transparência por parte da gestão prussiana de dona Sopher, a comunidade cultural gaúcha não sabe absolutamente o que está ocorrendo. Dona Sopher limita-se a desinformar (e queixar-se, onde é pródiga) quem a indaga dizendo que “os burocratas estão travando tudo”.
Mas quais burocratas? De que esfera de governo? Porque estariam “travando”? A blindagem administrativa imposta pelo modelo Sopher de gestão impede que a comunidade esteja informada sobre o que está ocorrendo com o projeto Multipalco.
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Aliás, tudo isso remete a temas e preocupações mais abrangentes.
Que política cultural orientará o futuro Complexo Cultural Theatro São Pedro?
Será uma política cultural fechada, restritiva, particularista e sopheriana? Ou será uma política cultural democrática e participativa?
O modelo Sopher de gestão nutre-se do espírito bancário da cultura – que busca entesourar os bens culturais, simbólicos ou materiais, e torná-los privativos de quem já detém capital cultural suficiente para consumir os seus apreciados biscoitos finos.
É um sistema que na Europa foi abandonado já no século 19, e no Brasil, com o advento da revolução de 1930. Não se trata, contudo, de confundir a popularização do espaço cultural público com o populismo de iniciativas fáceis e política nenhuma. O São Pedro, hoje, é um espaço tradicional apropriado de maneira privatista por impostores pré-republicanos que se arrogam no direito consuetudinário do mando e do desmando. A sociedade “acostumou-se com a dona Eva”, como se escuta, comumente.
Ora, esse apassivador obsoletismo caduco e autoritário precisa dar lugar à participação democrática e criativa de toda a comunidade interessada numa cultura autônoma e horizontalizada, como instrumento de inclusão e promoção das humanidades.                
E ainda tem os delirantes (como o ator Paulo Autran) que querem rebatizar o velho Theatro São Pedro de Espaço Eva Sopher!
Vocês concordam com essa pretensão indecorosa? 
É preciso, pois, um movimento público da comunidade cultural do Estado para dois objetivos (o primeiro, imediato, e o segundo, a médio prazo):
1) a retomada física do espaço cultural Theatro São Pedro e do anexo Multipalco (fazendo auditoria do cronograma físico-financeiro do projeto, e a luta pela retomada das obras civis);
2) a discussão democrática e participativa de uma política cultural republicana para o Complexo Cultural Theatro São Pedro, de Porto Alegre. 

Um comentário:

  1. No final do governo Rigotto, descobriu-se que dona Eva captava recursos via LIC sem a autorização do Conselho de Cultura.sobrou para o secretário jacoby e a eterna e invulnerável foi até elogiada por magistrado, por não ter se prendido ao artigo da lei, e não permitindo que a obra parasse.

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