A FEIRA DO LIVRO DE PORTO ALEGRE MORREU!!
E, AGORA, ESTÁ BEM ENTERRADA!! CONSEGUIRAM!!
Em novembro de 2006 fiz uma série de textos com o título "A Feira do Livro morreu". Recebi pau de todos os lados. Aí juntei todos esses artigos para publicar em um jornal ou revista, não lembro.
Antes de continuar, reproduzo:
Quando ainda estava na Famecos, no final da década de 70, um dos prazeres era passear pelas barracas da Feira do Livro de Porto Alegre. Namorava-se os livros que não se conseguia comprar e todos podiam conversar com os escritores na praça da Alfândega mesmo, sem formalismos. Sessões de autógrafos? Poucas, só de escritores de verdade.
Numa das Feiras pude conversar por um bom tempo com Rubem Fonseca. Noutra ouvi atentamente Lygia Fagundes Telles.
Nada de espetáculos, shows, oficinas, estas baboseiras que não acrescentam nada. Afinal, a estrela é o livro, e seus escritores. Explico o “baboseiras”: em 15 dias não se ensina nada e existem salas específicas para espetáculos. Havia, naquela época, um modestíssimo bar.
Nesse tempo, a grande atração da Feira era o livro e, claro, seus escritores. Literatura de verdade e escritores que sabiam o ofício. E talvez por esta simplicidade tenha sido sucesso desde a sua criação, há 52 anos. Além disso, o desconto de 20 por cento atrai até hoje milhares de pessoas.
Logo depois de encerrada a última edição, li uma crônica de uma jornalista, que trabalhou na cobertura da Feira, exultante com as “600 atrações culturais” e a impossibilidade de uma equipe de veículo cobrir “a grande festa da comunicação”. Meu Deus, é definitivo: A Feira do Livro de Porto Alegre morreu! Festa da comunicação?
Há alguns anos, o livro é secundário, e não duvide de que seja expulso da Praça da Alfândega.
(...)
E o “evento cultural” se traduz em “dois eixos”: a cada ano um maior número de participantes no setor de autógrafos – não tendo o menor critério para sentar numa cadeira e receber familiares e amigos – e muitos, inúmeros eventos paralelos, como oficinas, debates, palestras, encenações, leituras dramáticas, tudo o que aparecer terá espaço.
Aí alguém pode perguntar: Por que as TVs, rádios e jornais dão tanto espaço para a Feira do Livro, dedicando horas e horas para elogios? Ora, ingênuo indagador, porque as TVs, rádios e jornais conseguem com muita facilidade patrocinadores para “eventos culturais”. Tente lembrar dos patrocinadores deste ano. Todos grandes.
O atual modelo é tão interessante para os organizadores, e quem gravita em torno deles, que um dos mais conceituados jornalistas de Porto Alegre sugeriu que algumas barracas tivessem livros por gênero. Por exemplo, bancas de romances policiais, de ficção científica, históricos, para falar em livros que são muito procurados. Claro que o organizador da Feira do Livro não achou boa a idéia.
Comenta-se que o principal responsável pelo assassinato da Feira é um sujeito que não tem a menor intimidade com os livros – e nem mesmo com as letras –, dedicando-se a ganhar dinheiro em negócios com jogadores de futebol. Nada contra, evidente, mas existem na capital gaúcha intelectuais que poderiam gerir o evento dentro do princípio que sempre a norteou.
Não entendo muito disso, mas vários me falaram nos recursos das leis de incentivo a cultura, que estariam entrando aos borbotões. Duas pessoas me falaram, inclusive, que a atual administração da Feira não resistiria a uma CPI, se fosse uma entidade pública.
A Feira do Livro de Porto Alegre morreu.
Quero responsáveis, culpados!!
Quero que os meios de comunicação façam um mea culpa, admitam que ajudaram no sepultamento da Feira, incentivando as tais “manifestações culturais”. Vamos!
Quero que os intelectuais gaúchos tenham a coragem de discutir a atual Feira do Livro de Porto Alegre, com os penduricalhos “culturais”, com o lixo que as pessoas são obrigadas a conviver na praça da Alfândega.
A Feira do Livro de Porto Alegre morreu!
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Desde esta época nem passo perto do que restou da Feiira do Livro. Larguei!!
Agora, na edição de 2011, acompanhei pela mídia. Não sei se os patrocínios minguaram, mas a cobertura não foi tão espetaculosa.
Enterraram, mesmo, a Feira do Livro de Porto Alegre!!
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No final de semana recebi um texto do Ruy Gessinger - http://ruygessinger.blogspot.com/
Um texto perfeito.
Leia:
FEIRA DO LIVRO PRA MIM É SEBO.
MAS TUDO BEM.OS POBRES É QUE TEM GRANA.
Hoje é assim. É quase tudo espetaculoso.
Feiras de animais, que deveriam ser só de negócios, são leros de duplinhas sertanejas.
Dinheiros públicos são gastos com viagens de " misses" e " rainhas" e assim vai. Se fosse dinheiro particular o cara quebraria.
Agora vejo as feiras de livros. Que legal. Uma procissão de crianças e de pessoas sem ter um puto pila para comprar sequer uma obra decente, desfilam em testemunho de uma cultura postiça.
Com as feiras espantou-se a grossura e varreu-se a ignorância para baixo do tapete.
Mas é a moda.
Só um cara quer não depende de ninguém, como eu, para dizer: "e dê-lhe circo ao povo, trazendo celebridades, para que ele fique todo catito e feliz. Sempre foi assim com o pobrerio. Ele fica tontinho com as missangas."
Y siga el corso, com o povo inebriado e " se achando", quando em sua cidade, no correr do ano, nem livraria existe
Hoje passei quase toda a manhã no Beco dos Livros, na Riachuelo. Verdadeiras obras primas, por poucos "merréis". Obras primas por 10 reais, e os sebos vazios, como se livro tivesse idade, como se livro fosse um carro.
Livro é ouro, não tem idade.
Mas como ficam os políticos se não fazem um feira do livro, com uma Letícia, com um Santana, com um Gabriel o Pensador, com um artista da moda? E dê-lhe gastança com dinheiro público .
Ah! não gostou? É bairrista?
Então pegue seu filho pela mão e faça uma comparação do que custa um livro na feira do livro e um fora dela. Não se importa com isso? Então o problema é seu, é mentalidade de pobre de espírito, gosta de ser enganado.
As feiras do livro teriam que ser feitas de livros usados e doados.
Rio-me internamente, fuçando no ouro, na quietude dos sebos, enquanto os pobres, que tem dinheiro, compram livros novos...
Fiquem frios, não se irritem comigo, sempre tem que haver um, mais avisado, para avisar que o rei está nu.
Sou um grande frequentador de sebos.
ResponderExcluirMeu tio foi à Feira do Livro e comprou um dicinário por R$ 130,00. Em seguida, viu o mesmo dicionário nas livrarias por R$ 100,00. Tal qual "O corvo", ele repete: Feira do Livro? "Nevermore".
ResponderExcluirFeira do Livro? Onde? Ela está morta, como disse o Previdi e o Gessinger. Quando algo tradicional se torna "um evento" é sinal de morte lenta daquilo que já foi respeitado e cultuado. Foi assim com o Festival de Cinema de Gramado. A Feira do Livro como está posta, logo-logo será vendida a algum grupo de comunicação. Teremos, então, pessoas pensando em comprar livros para dar de presente, mesmo que o presenteado já tenha rejeitado a idéia: "Livro? Mas eu já tenho lá em casa..."
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